O caboclo é a entidade espiritual presente em todas as religiões
afro-brasileiras, sejam elas organizadas em torno de orixás, voduns ou inquices.
Pode não estar presente num ou noutro terreiro dedicado aos deuses africanos,
mas isto é exceção. Seu culto perpassa as modalidades tradicionais
afro-brasileiras — candomblé, xangô, catimbó, tambor de mina, batuque e outras
menos conhecidas —, constitui o cerne de um culto praticamente autônomo, o
candomblé de caboclo, e define estruturalmente a forma mais recente e mais
propagada de religião afro-brasileira, a umbanda. A origem dos candomblés de
caboclo estaria no ritual de antigos negros de origem banto, que na África
distante cultuavam os inquices — divindades africanas presas à terra, cuja
mobilidade geográfica não faz sentido — e que no Brasil viram-se forçados a
encontrar um outro antepassado para substituir o inquice que não os acompanhou à
nova terra. Neste novo e distante país, que antepassado cultuar senão o índio, o
caboclo, como diziam os antigos nordestinos? Os antigos habitantes, quem senão o
verdadeiro e original "dono da terra"? (Santos, 1995).
Apesar de
preponderantemente identificados como índios, há caboclos de diferentes origens
míticas, como boiadeiros, turcos e marinheiros ou marujos. Caracterizam-se, em
geral, pela comunicação verbal e proximidade de contato com o público que
freqüenta os terreiros. Eles brincam, entoam cantigas e tiram as pessoas para
dançar ao som de seu alegre samba. Além da animação, outra característica
marcante é seu poder de cura e a disposição para ajudar os necessitados, mais a
sabedoria. Acredita-se que os caboclos conhecem profundamente os segredos das
matas, podendo assim receitar com eficácia folhas para remédios e banhos
medicinais. No imaginário popular, o caboclo é a um só tempo valente, destemido,
brincalhão e altruísta, capaz de nos ajudar para o alívio das aflições
cotidianas. As pessoas que acorrem aos cultos afro-brasileiros, sobretudo as
mais pobres, encontram nesta entidade um sábio curandeiro, sempre pronto a vir
em socorro dos aflitos.
O termo candomblé de caboclo teria surgido na Bahia,
entre o povo-de-santo ligado ao candomblé de nação queto, originalmente pouco
afeito ao culto de caboclo, justamente para marcar sua distinção em relação aos
terreiros de caboclos. Nos anos 30, de acordo com relato da antropóloga
americana Ruth Landes, que esteve na Bahia num período entre 1938 e 1939,
usavam-se as expressões mãe cabocla, seita cabocla, candomblé de caboclo em
oposição aos termos dos candomblés africanos. De uma visita que fez ao terreiro
de Mãe Sabina, famosa sacerdotisa cabocla, Ruth Landes registrou um diálogo
significativo entre esta mãe-de-santo e outras mulheres do templo, diálogo do
qual vale a pena relembrar este trecho:
Uma das mulheres, referindo-se à
americana, pergunta a Mãe Sabina:
"Ela sabe qual é a nossa seita? Sabe que
somos caboclos e os outros são africanos?
Ao que responde Sabina:
A senhora deve saber essas coisas. Este templo é
protegido por Jesus e Oxalá e pertence ao Bom Jesus da Lapa. É uma casa de
espíritos caboclos, os antigos índios brasileiros, e não vem dos africanos
iorubás ou do Congo. Os antigos índios da mata mandam os espíritos deles nos
guiar, e alguns são espíritos de índios mortos há centenas de anos. Louvamos
primeiro os deuses iorubás nas nossas festas porque não podemos deixá-los de
lado; mas depois salvamos os caboclos porque foram os primeiros donos da terra
em que vivemos. Foram os donos e portanto são agora nossos guias, vagando no ar
e na terra. Eles nos protegem. (Landes, 1967, p. 196).
Hoje, na diferenciação
com outras nações de candomblé, como queto, jeje, ijexá, efã, angola e congo,
fala-se numa nação caboclo[1], mas raramente pode-se encontrar um candomblé de caboclo
funcionando independentemente de um candomblé das outras nações. Embora muito
associado ao candomblé angola, o rito caboclo já começava, à época da visita de
Landes à Bahia, a ser incorporado também a candomblés de nação queto.
Na
disputa por legitimidade e prestígio, os candomblés de caboclos foram
considerados inferiores tanto pelo povo-de-santo como pelos pesquisadores, que
deles escreveram muito pouco. O primeiro trabalho científico tratando com
profundidade do candomblé de caboclo somente apareceu em 1995, com a publicação
do livro O dono da terra, tese de mestrado defendida na USP pelo antropólogo
baiano Jocélio Teles dos Santos. A dissimulação e mesmo a negação do culto aos
caboclos nos terreiros marcados pela ortodoxia nagô, entretanto, mantém-se até
hoje, sendo comum a acusação de que em tal ou qual terreiro queto que não tem
caboclo, a mãe-de-santo ou outra pessoa de prestígio recebe seu caboclo
escondido ou, no mínimo, lhe oferece sacrifícios na mata. Apesar de considerado
inferior, o candomblé de caboclo impregnou-se nas demais nações e por meio delas
propagou-se pelo País. De seu encontro com o espiritismo kardecista, que
resultou num grande embate ético, nasceu, no Rio de Janeiro dos anos 30, a
umbanda, com o desenvolvimento de ritos, ritmos e panteão particulares. O velho
candomblé de caboclo continuou, contudo, com vida própria e, num outro
movimento, chegou de novo ao Rio de Janeiro e São Paulo, sempre associado ao
candomblé de orixá e inquice, mas separado da umbanda. E como tal se mantém e se
reproduz.
No candomblé de caboclo há predominância de muitos elementos do
candomblé angola, os atabaques são tocados com as mãos, as músicas são cantadas
em português, com uso freqüente de termos rituais de origem banto. O apelo a uma
cultura indígena, quase sempre idealizada, proporciona ao candomblé de caboclo
uma valorização de elementos nacionais, fazendo dele, na concepção popular, uma
religião "brasileira por excelência". Elementos simbólicos nacionais são
ressaltados, como a menção às matas, as cores verde e amarelo, o sincretismo
católico e a miscigenação racial. Em todo seu repertório musical fala-se muito
desse amálgama cultural que é o Brasil. Esta matriz cabocla foi inteiramente
absorvida pela umbanda, que na forma é um candomblé de caboclo, mas que contém
uma elaboração ética da vida que separa o bem do mal nos moldes kardecistas
completamente ausente na tradição cabocla e que fez da umbanda uma religião
diferente e autônoma.
Hoje o candomblé não é mais uma religião étnica
circunscrita à população negra, pois já se espalhou pela sociedade branca
abrangente, rompendo preconceitos e fronteiras geográficas, inclusive para fora
do País. Legitimou-se como mais uma opção religiosa e vem aos poucos garantindo
seu espaço no disputado mercado religioso contemporâneo. A propagação desta
religiosidade na populosa Região Sudeste, a partir dos anos 60, deu-se
principalmente a partir dos terreiros umbandistas que aí existiam desde os anos
30 e 40. Numerosos filhos-de-santo da umbanda aderiram ao axé da tradição
negro-baiana, cuja força vital era por eles considerada mais forte. A busca
mágico-religiosa da satisfação de anseios do metropolita moderno tornou o
candomblé uma religião universalizada, isto é, agora aberta a todos. É eloqüente
o caso da fixação do candomblé em São Paulo (Prandi, 1991). Com o orixá, o
inquice e o vodum do candomblé veio o caboclo do candomblé, que é ritualmente e
doutrinariamente diferente do caboclo da umbanda.
No contexto da transformação religiosa que trouxe o candomblé do Nordeste para o
Sudeste, que ainda encontra-se em curso, os caboclos certamente têm sido
protagonistas decisivos, afinal seu culto foi mantido e está presente hoje em
quase todos os terreiros de candomblé, sejam eles de rito angola, queto ou
efã.
Sudeste, que ainda encontra-se em curso, os caboclos certamente têm sido
protagonistas decisivos, afinal seu culto foi mantido e está presente hoje em
quase todos os terreiros de candomblé, sejam eles de rito angola, queto ou
efã.
O candomblé de caboclo atualmente é praticado paralelamente ao
culto de divindades africanas, estando associado aos terreiros de inquices,
orixás e voduns. Tudo se passa como se houvesse duas atividades religiosas
independentes, podendo mesmo se observar separação dos espaços físicos, não se
misturando caboclo com orixá. Mas o pai ou mãe-de-santo é obviamente a mesma
pessoa, assim como os ogãs alabês, os tocadores de atabaque, e outros
sacerdotes. Enquanto o candomblé dos deuses exige um complexo e demorado
processo de iniciação, no candomblé de caboclo não há propriamente algo
correspondente à "feitura de santo". Noviços passam a freqüentar os toques,
podendo receber o encantado sem nenhuma preparação preliminar baseada em longo
período de clausura. Num mesmo terreiro, há filhos "feitos", iniciados, para
orixás-inquices que também recebem seus caboclos, mas é possível observar número
expressivo de filhos que recebem caboclo e participam ativamente do candomblé de
caboclo, mas que nunca são iniciados para a divindade africana, comportando-se
ritualmente nos toques de orixás como simples abiãs, iniciantes. Também não
participam das cerimônias sacrificiais aos orixás, reservadas aos filhos de
orixá "feitos". Em muitos terreiros, contudo, primeiro observa-se a iniciação do
filho-de-santo para o orixá, ocorrendo depois, geralmente na obrigação de um
ano, a "chamada" do caboclo, que então incorpora no novo filho, podendo ser
batizado ou não em cerimônia descrita mais adiante.
Diferente da umbanda, o
caboclo do candomblé recebe sacrifício, sendo suas festas públicas precedidas de
cerimônias de matança, com ofertas de aves, cabritos e bois. Em muitos
terreiros, a oferta de bois e novilhos é uma demonstração do poder sagrado do
caboclo e de seu prestígio junto aos filhos-de-santo. Suas festas podem ser
muito mais fartas e concorridas que as reservadas ao orixás. O caboclo de
candomblé, como os orixás, também pode ter assentamento, isto é, uma
representação de base material, com instrumentos de ferros e outras insígnias
fixadas numa vasilha, em geral um alguidar, junto ao qual se depositam as
oferendas: seu altar. Também pode ter seu quarto-de-santo, geralmente uma cabana
ou um espaço aberto ou semi-aberto localizado no quintal do terreiro, área que o
caboclo compartilha com orixás e inquices identificados com o mato e os espaços
abertos, como Ogum ou Incôci, Oxóssi ou Gomgobira, Ossaim ou Catendê.
Os
caboclos são espíritos dos antigos índios que povoavam o território brasileiro,
os antigos caboclos, eleitos pelos escravos bantos como os verdadeiros
ancestrais em terras nativas. São espíritos, não deuses. São eguns, na linguagem
do candomblé nagô. Ao caboclo índio também se designa "caboclo de pena",
referência aos penachos e cocares que usa quando em transe para marcar sua
origem indígena. Mas há também caboclos de outras procedências: os caboclos
boiadeiros, que teriam um dia vivido no sertão na lida do gado e que usam o
chapéu característico de sua antiga ocupação; os marujos ou marinheiros, sempre
cambaleantes por causa do "tombo do mar" que marca a vida nos navios. Alguns
caboclos são originários de lugares imaginários, como a Vizala ou a Hungria
culto de divindades africanas, estando associado aos terreiros de inquices,
orixás e voduns. Tudo se passa como se houvesse duas atividades religiosas
independentes, podendo mesmo se observar separação dos espaços físicos, não se
misturando caboclo com orixá. Mas o pai ou mãe-de-santo é obviamente a mesma
pessoa, assim como os ogãs alabês, os tocadores de atabaque, e outros
sacerdotes. Enquanto o candomblé dos deuses exige um complexo e demorado
processo de iniciação, no candomblé de caboclo não há propriamente algo
correspondente à "feitura de santo". Noviços passam a freqüentar os toques,
podendo receber o encantado sem nenhuma preparação preliminar baseada em longo
período de clausura. Num mesmo terreiro, há filhos "feitos", iniciados, para
orixás-inquices que também recebem seus caboclos, mas é possível observar número
expressivo de filhos que recebem caboclo e participam ativamente do candomblé de
caboclo, mas que nunca são iniciados para a divindade africana, comportando-se
ritualmente nos toques de orixás como simples abiãs, iniciantes. Também não
participam das cerimônias sacrificiais aos orixás, reservadas aos filhos de
orixá "feitos". Em muitos terreiros, contudo, primeiro observa-se a iniciação do
filho-de-santo para o orixá, ocorrendo depois, geralmente na obrigação de um
ano, a "chamada" do caboclo, que então incorpora no novo filho, podendo ser
batizado ou não em cerimônia descrita mais adiante.
Diferente da umbanda, o
caboclo do candomblé recebe sacrifício, sendo suas festas públicas precedidas de
cerimônias de matança, com ofertas de aves, cabritos e bois. Em muitos
terreiros, a oferta de bois e novilhos é uma demonstração do poder sagrado do
caboclo e de seu prestígio junto aos filhos-de-santo. Suas festas podem ser
muito mais fartas e concorridas que as reservadas ao orixás. O caboclo de
candomblé, como os orixás, também pode ter assentamento, isto é, uma
representação de base material, com instrumentos de ferros e outras insígnias
fixadas numa vasilha, em geral um alguidar, junto ao qual se depositam as
oferendas: seu altar. Também pode ter seu quarto-de-santo, geralmente uma cabana
ou um espaço aberto ou semi-aberto localizado no quintal do terreiro, área que o
caboclo compartilha com orixás e inquices identificados com o mato e os espaços
abertos, como Ogum ou Incôci, Oxóssi ou Gomgobira, Ossaim ou Catendê.
Os
caboclos são espíritos dos antigos índios que povoavam o território brasileiro,
os antigos caboclos, eleitos pelos escravos bantos como os verdadeiros
ancestrais em terras nativas. São espíritos, não deuses. São eguns, na linguagem
do candomblé nagô. Ao caboclo índio também se designa "caboclo de pena",
referência aos penachos e cocares que usa quando em transe para marcar sua
origem indígena. Mas há também caboclos de outras procedências: os caboclos
boiadeiros, que teriam um dia vivido no sertão na lida do gado e que usam o
chapéu característico de sua antiga ocupação; os marujos ou marinheiros, sempre
cambaleantes por causa do "tombo do mar" que marca a vida nos navios. Alguns
caboclos são originários de lugares imaginários, como a Vizala ou a Hungria
No candomblé, os caboclos, que também podem ser do sexo feminino, são
considerados filhos dos orixás e os próprios caboclos incorporados a eles assim
se referem, quando dizem que foi o pai ou a mãe que os mandou vir à terra para a
celebração do toque, ou quando vão embora e dizem que foi o pai ou a mãe que
chamou. Estabelece-se assim uma correspondência entre a paternidade do caboclo e
do filho-de-santo, de sorte que filhos de Oxum têm caboclos de Oxum, filhos de
Xangô têm caboclos de Xangô e assim por diante. Vejamos uma lista de caboclos e
caboclas com os respectivos orixás, notando como os nomes dos caboclos tendem a
fazer referência a atributos do orixá:
Ogum - Caboclo do Sol, Pena Azul,
Giramundo, Serra Azul, Serra Negra, Sete Laços, Trilheiro de Vizala, Sete
Léguas, Rompe Mato, Laço de Prata;
Oxóssi - Mata Virgem, Pena Verde, Jurema,
Arranca-Toco, Sete Flechas, Urubatam;
Ossaim - Junco Verde, Boiadeiro das
Matas, Floresta, Guarani;
Omolu - Girassol, Tupinambá, Xapangueiro,
Cambaí;
Nanã - Treme Terra, Cabocla Camaceti, Rei da Hungria;
Oxumarê -
Cobra Coral, Cobra Dourada;
Xangô - Mata Sagrada, Boiadeiro Zamparrilha,
Boiadeiro Trovador, Boiadeiro Corisco, Sete Pedreiras;
Iansã - Ventania,
Vento, Jupira, Zebu Preto, dos Raios;
Obá - Pena Vermelha;
Oxum- Lua Nova,
Lua, Jandaia, Cabocla Menina, Estrela Dourada, Sultão das Matas;
Logun-Edé -
Laje Grande, Laje Forte, Bugari;
Iemanjá - Sete Ondas, Indaiá, Juremeira,
Estrela, Sete Estrelas, Iara;
Oxalá - Pedra Branca, Pena Branca, Lua Branca,
Águia Branca.
Caboclos e orixás são tratados nos candomblés como
entidades de naturezas diferentes. Além das distinções de caráter meramente
formal, há aspectos que os distinguem e que são importantes na relação que se
estabelece entre cada um deles e seus devotos.
Todo filho-de-santo deve ser
iniciado para um determinado orixá (ou inquice, ou vodum), que é considerado seu
antepassado, seu pai ou mãe, sua fonte de vida. A iniciação implica recolhimento
e ritos complexos que envolvem somas de dinheiro elevadas, nem sempre
compatíveis com a extração social dos adeptos das religiões afro-brasileiras, em
geral, pobres. O culto do caboclo não requer processo iniciático deste tipo,
podendo ocorrer em algumas casas o batismo do caboclo, um ritual de confirmação
bem mais simples que a "feitura".
Enquanto os deuses africanos vêm aos
terreiros para dançar e falam apenas com algumas pessoas com cargos sacerdotais,
os caboclos dirigem-se diretamente a todos que os procuram nos toques ou nas
festas. Conversar é sua característica marcante. Todo caboclo é falante. Pode
ser simpático ou carrancudo, amigável ou arredio, irreverente ou reservado, mas
é sempre falador. Para se conhecer a vontade dos orixás é preciso recorrer ao
jogo de búzios, que somente a mãe ou pai-de-santo pode jogar. Parecem um tanto
distantes, portanto. Já os caboclos dizem o que sentem sem nenhuma mediação. A
relação com o cliente é direta, face a face.
A língua é outro fator
importante nesta distinção, pois grande parte das pessoas que vão aos terreiros
não compreende as línguas rituais derivadas do iorubá, fom ou quicongo e
quimbundo em que se cantam as cantigas. Nem mesmo a maioria dos filhos-de-santo
sabe o que está cantando, pois as línguas rituais hoje são intraduzíveis. Aos
caboclos, pelo contrário, canta-se em português. Suas cantigas são simples e
sugestivas, com expressões e termos conhecidos do catolicismo tradicional e do
imaginário popular. Um culto assim é menos afro e mais brasileiro, ou seja, mais
"nosso" para muita gente.
Em alguns terreiros, os caboclos são concebidos
como "mensageiros" dos orixás. Segundo alguns pais-de-santo, eles são
transmissores das vontades divinas, afinal "eles falam o que os orixás não podem
falar". Mãe Manodê, 78 anos, chefe do terreiro angola que foi o primeiro a se
estabelecer em São Paulo como terreiro de candomblé, nos anos 60, diz:
O
caboclo é mensageiro dos orixás. Ele tem que fazer o que os orixás mandam:
consulta, ebó da prosperidade, ebó da bênção... É o orixá que determina, aí
então o caboclo pega o filho-de-santo para fazer ebó
Mãe Manodê, reforçando a idéia da subordinação deles aos orixás, afirma a
importância dos caboclos como mediadores na relação dos clientes com os orixás,
dizendo que afinal "eles sabem dar palestras", isto é, conversar com
desenvoltura com fiéis e clientes, coisa que orixá não faz. Esta antiga
mãe-de-santo baiana reivindica ainda para o candomblé angola a exclusividade da
devoção aos caboclos: "O candomblé queto não cultua caboclo. O que existe hoje é
invenção dessa gente. Caboclo sempre foi de angola, sempre, desde a Bahia.
Depois o queto copiou."
Hoje em São Paulo dificilmente o caboclo pode ser
usado como divisor de águas entre as nações de candomblé de origem banto e
iorubá ou nagô, embora todos reconheçam que sua origem está inscrita nos antigos
terreiros de candomblé angola e congo da Bahia, cujas expressões maiores são os
terreiros do Bate Folha e o Tumba Junçara, ambos em Salvador, ambos centenários.
O caboclo está presente nos candomblés de todas as nações. Não é cultuado em
apenas uns poucos terreiros africanizados, embora haja terreiros africanizados
com culto de caboclo. Mesmo terreiros tributários dos mais antigos terreiros
queto da Bahia cultuam caboclo, ainda que o culto se resuma a uma única festa
anual.
leiam texto completo no grupo http://www.groups.yahoo.com/group/boiade irorei